Escritor e professor Celso Ferrarezi comenta jornal escolar Sétimo ano em notícias
- espacodoleitor2019
- 15 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
Sobre um Certo Jornal Estudantil...
Celso Ferrarezi Jr.[1]
Existem muitas maneiras de se ensinar a linguagem no ambiente escolar. É claro que, aqui, não será possível falar de todas elas, mas vou falar de duas em especial.
No Brasil, a mais comum das formas de ensinar linguagem é através de livros didáticos de orientação normativista que fazem os meninos acreditarem que aprender “regras”, como aquelas do uso da crase, os farão entender o mundo das letras e da fala. É claro que essa é uma forma errada de ensinar, porque engana quem submete e quem é submetido a esse processo. É por isso que nossos alunos ficam – pelo menos – onze anos na escola e grande parte deles sai da escola em estado de mudez e sem saber ler e escrever.
Mas, existe uma outra forma de ensinar linguagem, forma à qual chamo de “Pedagogia da Comunicação”, que transforma o aluno em protagonista de sua construção em linguagem. Nessa forma de ensinar, o livro didático deixa de ser a “muleta” de todo dia e se torna apenas um entre tantos instrumentos de caminhada. Nesse método, os alunos aprendem a ler de verdade e com prazer, são estimulados a escrever pra valer, são incentivados a falar com responsabilidade e aprendem a ouvir de forma crítica e respeitosa. Em outras palavras: a Pedagogia da Comunicação é uma ferramenta de combate ao silenciamento que impera em nossa sociedade. Dizem por aí que os brasileiros são “pacíficos” e “tolerantes”. Nada disso! Somos um povo treinado para ficar calado e engolir as coisas mais injustas “em seco”. Bem, parece que já é hora de quebrar esse ciclo horrível de silenciamento.
Então, quando eu vi que o Sétimo Ano da E.M.E.F. João de Fontes Rangel resolveu botar a boca no trombone e escrever um jornal com suas notícias, eu só pude mesmo foi ficar muito feliz! Eu sei que tem gente que vai logo perguntando se esses meninos e meninas têm alguma coisa para dizer... Gente chata, é claro... E eu respondo com muita firmeza: “É óbvio que eles têm o que dizer! E têm coisas importantes, se você quer saber: importantes para eles mas, também, importantes para nós.”
É por isso que eu chamei esse jornal de “certo” lá no título. Um “certo jornal”, ali, não significa um “jornal qualquer”, mas significa um “jornal certo”, um jornal correto que mostra que existe uma forma certa de se ensinar e de se aprender linguagem. É um jogo de palavras, é claro. Mas, é um jogo que mostra que essa forma correta de ensinar não é fingindo que a gente está ensinando e aprendendo. É construindo instrumentos de linguagem de verdade, instrumentos de linguagem que mudem nossa vida e que ajudem a mudar a vida dos outros.
Aliás, lendo o Jornal, vi que os alunos do 6º e do 7º ano estão fazendo o Carrossel de Leitura! Aí eu botei fé mesmo! Alunos que leem habitualmente são pessoas melhores, mais preparadas para a vida, são alunos mais cultos e muito mais inteligentes! Então, parabéns aos alunos que levaram o Carrossel a sério e que estão lendo bastante! Não desistam e leiam.
E, por aqui, vou encerrando meu comentário dessa edição. Espero que todos aproveitem o conteúdo e também espero que aqueles que não participaram do jornal fiquem com vontade de participar da próxima edição. Afinal de contas, essa coisa de ficar calado e de nunca ter opinião sobre nada fica melhor para árvore e para poste do que para gente inteligente e de bem com a vida!
Um abraço e uma boa leitura para todos!
[1] Escritor e Professor Titular de Semântica do Instituto de Ciências Humanas e Letras - UNIFAL-MG.
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